A série, que está dividida em quatro episódios, conta a história de uma jovem mulher judia ultraortodoxa chamada Esther (Shira Haas), ou Esty, que deixa o seu marido, Yanky (Amit Rahav), em busca do mundo desconhecido fora das sua comunidade religiosa restrita em Williamsburg, Brooklyn.
A
história de “Unorthodox” é baseada no best
seller da autobiografia de Deborah Feldman. A série é abrupta no que toca à
representação da forma como as mulheres são tratadas segundo esta religião em
particular, continuando a respeitá-la e mantendo-se fiéis à mesma. Assim, os flashbacks a que assistimos sustentam-se na
história real de Deborah Feldman, ainda que a história do presente da
personagem seja, em grande parte, inventada.
Esta
mini-série de quatro episódios é um retrato bonito e envolvente do renascer de
uma mulher, cuja interpretação e extraordinária performance pertence à atriz
israelita Shira Haas. Com a sua pequena estatura e olhos arregalados, ela
transmite medo, tristeza e uma mistura entre ingenuidade e admiração.
Nos
momentos de abertura do primeiro episódio, Esty, que é uma jovem de 19 anos de
idade, tenta fugir à sua comunidade de judaísmo hassídico de Satmar - a qual é,
maioritariamente, composta por descendentes de sobreviventes do Holocausto que se
desenvolveram à semelhança da sua comunidade do pós-guerra - sem que ninguém
repare, especialmente o seu marido. Inicialmente, é impreciso o porquê de Esty
necessitar de fugir, no entanto, mais tarde, a série leva o espetador a
perceber que ela está completamente desesperada. A tensão presente na cena de
abertura é a mesma que existe em qualquer thriller de fuga.
“Unorthodox”
foca-se, simultaneamente, no destino de chegada de Esty - em Berlim, onde ela
conhece Robert (Aaron Altaras) e os seus amigos músicos - e nos motivos que a
levaram a fugir de Brooklyn, alternando entre flashbacks e momentos do seu
presente. Tendo vivido numa cultura extremamente
insular, a protagonista experiencia, pela primeira vez, situações banais do
quotidiano de jovens da sua idade, assim como é o caso dos casais que
demonstram afeto publicamente e das pessoas que tomam banho na praia.
As
informações sobre o passado de Esty são avançadas aos poucos, com as criadoras
Anna Winger e Alexa Karolinski que adaptaram a série a partir da autobiografia
de Deborah Feldman lançada em 2012, dividindo os detalhes entre a forma como
Esty e Yanky se conheceram e entre o modo como se sucedeu o seu casamento. Embora
algumas opiniões possam afirmar o contrário, “Unorthodox” resiste à ideia de transformar as personagens em vilões. Ao invés, a série
apresenta aos espetadores pessoas que tentam fazer aquilo que acreditam,
firmemente, estar certo e, como consequência, atores tais como Eli Rosen - que interpreta
o Rabbi Yossele e que é ator, tradutor e especialista em yiddish - e Jeff
Wilbusch - que interpreta Moishe Lefkovitch e que veio de uma comunidade Satmar
em Mea Shearim, Jerusalém - foram contratadas para garantir a precisão e rigor
dos detalhes.
Se
“Unorthodox” fala sobre a história de uma mulher que foge de uma sociedade que
julga sufocante e insustentável, fala também sobre a compreensão daqueles que
encontram na religião um refúgio do mundo que, continuamente, tem sido hostil para
com os Judeus. E, para isso, existe o devido crédito a dar à realizadora, Maria
Schrader, por tão bem visualizar tanto Williamsburg assim como Berlim: as cenas
de judaísmo hassídico são, essencialmente, peças de época, cuidadosamente
planeadas e retratadas, e o diálogo vai desde o yiddish - a língua nativa da
comunidade de Satmar - ao inglês e alemão, na tentativa de reproduzir tão bem
quanto o possível a realidade das comunidades nas margens.
Versão em inglês aqui.
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